O Belo
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Na história da beleza, “o belo tem um laço estreito com o bom”*.
Uma boa ação é sem duvida um belo gesto.
Nem sempre o belo é o perfeito, o simétrico.
Nem sempre é o colorido ou o alegre. Embora muitas vezes nos alegre o olhar e a mente.
Nossa ideia de inferno, por exemplo, não é apenas a de “um inferno ético e religioso, mas a de um inferno estético”*. O inferno é, por excelência, o lugar onde não há lugar para o belo.
O belo nos atrai, nos agrada, nos abre o apetite, que nada mais é do que potência que temos de ser saciados. Uma bela macarronada, uma bela noite de amor, um belo filme, uma bela música – estão aí para nos lembrar a bela fome que temos das coisas que nos alimentam.
O que foi belo em um tempo, em muitos outros não o foi.
O que foi belo para muitos não foi belo para alguns.
De onde se vê o belo é necessário um olhar, uma janela, atrás da qual sempre mora uma pessoa, uma idade, uma orientação sexual, um lugar de origem, alguns hábitos e hálitos.
Mesmo que todos nós possamos achar uma mesma coisa bela, a beleza sempre será uma experiência particular, solitária. Pois só é uma experiência completa dentro de nós no exato momento em que nos abala. Não é à toa que, no sentido de formoso, “o belo vem de “formo”, que é o calor que move o sangue”*.
No entanto, mais do que pôr a vida em movimento dentro de nós, o belo é a esperança de uma harmonia possível. E se a harmonia é possível, as relações também o são.
Toda comunicação é o plasma no qual as trocas se tornam relações, e as experiências podem se tornar belas experiências.
No final do ano passado, meu pai teve um AVC e perdeu a capacidade de se comunicar. O mais triste pra mim foi que eu também perdi a capacidade de me comunicar com ele. Comecei a falar com voz de falsete, a tratá-lo como se ele fosse uma criança; me escaparam todos os assuntos que pudéssemos compartilhar.
Então tive a ideia de ler para ele “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, um belo livro, que ele amava profundamente. Enquanto eu lia, ele me olhava atento, e eu via pequenos movimentos em seus olhos, em sua face, em sua alma, que me diziam que nós dois estávamos tendo um belo encontro.
Na história do livro, um bispo, muito bom, muito caridoso, distribuía entre os pobres tudo o que ganhava da igreja para a sua sobrevivência.
Sua devota criada vivia apertada para preparar as refeições porque não havia dinheiro para comprar comida. No jardim o bispo tinha uma plantação de rosas, e a criada sugeriu a ele arrancar as roseiras e fazer uma horta no lugar. Então o bispo disse a ela: “O belo é tão útil quanto as coisas úteis.”
É sempre muito útil se importar com a dimensão do belo em tudo o que fazemos.
* História da Beleza – Humberto Eco
O texto acima, de autoria da nossa diretora de criação e planejamento, Carla Madeira, foi lido por ela na confraternização de final de ano com os clientes da Lápis Raro. Essas reflexões sobre o belo foram o ponto de partida para o projeto do nosso Diário de Bordo 2010, que você conhece abaixo:
Tem mais fotos do diário aqui pessoal: http://www.flickr.com/photos/guarise/sets/72157625684915734/
Carla, o seu texto me (co)move na direção de buscar mais coisas belas. E me faz lembrar também de um comentário do poeta Paul Válery sobre a necessidade humana de se nutrir da invenção, da imaginação: o que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?
in one of his older weekly newsletters that the Rolrefecleks build many- if not all- nuclear reactors in China at faultlines, as is the case in the US and Fukushima. These people should be stopped and end up behind bars for the rest of their breathing process.CIA O
[…] mineira Lápis Raro criou espaços de interação com os internautas. O primeiro deles é o Diário de Bordo 2011, cujo tema é “O belo é tão útil quanto as coisas úteis”, retirado do livro “Os […]
We have to replace beauty, which is a cultural concept, with goodness, which is a humanist concept.”
Philippe Starck
Nossa. Amei isso, Kiti!
Carla Madeira,
Belissimo o texto!!!!
Parabens de toda a minha alma.
Sem palavras.
Andrezza Rodrigues.
Aqui a gente vê que a busca pelo belo é incansável, por isso colocamos tanto coisa bacana no ar.
O texto todo é lindo, mas deu nó na garganta a descrição da perda da comunicação com o pai, depois de um AVC.
Parabéns a toda a equipe envolvida na criação do diário, na produção da festa e nas peças que temos produzido.
Arrasou
Stellar work there evyrenoe. I’ll keep on reading.
Muito belo, por sinal.
O parágrafo inicial me lembrou muito Aristóteles e sua discussão sobre o belo.
Arrasou!
Cléo, obrigada pelas coisas bacanas que você falou. Saulo, nosso diário de bordo está belo, foi muito bacana fazer esse trabalho com você.!
Pedro, belo retorno, obrigada.
Maravilhoso! Arrepiei também, Pedro Alberto.
beijoss a todos.
esse texto é lindo mesmo!
Confesso que até arrepiei quando os olhos verdes leram esse texto pra mim.
Fico muito feliz e honrado de ter participado da criacão desse diário, foi uma experiência criativa fantástica! Coração bateu forte quando vi ele prontinho!
A beleza deve ser sempre resgatada.
Acredito no belo e em seu poder de cura.
Antes da expressão, o sentimento.
Depois do sentimento, o olhar.
Depois do olhar, a força do belo.
Obrigada Carla, seu texto encheu de beleza meus olhos e diante do calor que fez ontem, bateu uma brisa leve, suave e fiquei inteiramente desprovida de apego. Então, deixei que ela passasse, mas guardei a força do belo comigo. E que eu consiga repassá-lo em algum gesto, algum movimento, algum momento.
Obrigada.
Cléo Baptista.